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sábado, 29 de junho de 2013

Três poemas de Thaíse Diaz







Melancolia I ou o enigma da tarde



Para Giorgio De Chirico



Do topo desta tarde melancólica
Vislumbro um olhar
Olhar mundo
Abarcando o sentido e a ausência
Tarde dragão
A lançar fogo sobre os restos mortais
depositados ali por segurança
E para posterior visitação
Pedaços de inocência
Lamentos de amor
Fome
Um lugar para o não-eu
Terceiro olho
A queimar nas chamas desta tarde
Em vão
Como um precipício cai a noite
Sobre o corpo deixado ficar ali
Serenamente num canto
Entorpecido por uma inércia
Própria dos que almejam a santidade
Morre degustando pétalas
Em vão










 Melancolia II



Há em mim rumores
De frutas e flores.
E pensando conter a primavera
Na ponta dos dedos
pinto as unhas de azul.
Visto meu vestido mágico
E atiro-me no precipício deste dia.
Seria suicídio
se o sol não estivesse
nu sob meus pés




  
Samba tantã

Dança meu irmão
sua coreografia solitária
Ensaia a dramaturgia da loucura
Neste palco desordenado.
Me diz em libras sua dor e
afônica
assisto a estética azul-lilás
do caos
do nada.
No ar, seus gestos e
meu coração esquizofrêmito:
Tantã
Tantã
Tantã...






Thaíse Diaz é uma das principais vozes da poesia que se produz no norte do Estado de Minas Gerais no momento, com uma dicção marcada pela oralidade sertaneja e uma percepção que tenta abarcar temas diversos  - o amor, a solidão, o sexo, o mistério etc -, expressando-os do modo mais natural, espontâneo - irônico, muitas vezes -, possível. Ainda sem livro publicado, é mestre em literatura brasileira pela Unimontes, onde atua como professora. Estes poemas são inéditos. As imagens são do artista grego Giorgio De Chirico (1888/1978), uma das legendas das artes plásticas no século XX,  precursor e embaralhador do Surrealismo, entre outras façanhas.